terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os Espaços Mais Sóbrios do Manicômio Social!




"Os 'normais' levantavam sempre do mesmo jeito. Reclamavam da mesma maneira. Irritavam-se do mesmo modo. Xingavam com as mesmas palavras. Cumprimentavam os íntimos da mesma forma. Davam as mesmas respostas para os mesmos problemas. Expressavam o mesmo humor em casa e no trabalho. Tinham as mesmas reações diante das mesmas circunstâncias. Davam presentes nas mesmas datas. Enfim, tinham uma rotina estafante e previsível, que se tornava uma fonte excelente para a ansiedade, a angústia, o vazio, o enfado.

O sistema havia enfartado a imaginação das pessoas, corroera a sua criatividade. Elas raramente surpreendiam. Raramente davam presentes em dias inesperados. Raramente reagiam de modo distinto em situações tensas. Raramente libertavam o intelecto para enxergar os fenômenos sociais por outros ângulos. Eram prisioneiras e não sabiam
."

Augusto Cury - O vendedor de sonhos.



Eu complemento a fala do Sr. Augusto: As pessoas "normais" desejam sempre as mesmas coisas, com uma conformidade quase anuladora ao real sentido do desejo. Deixam de sonhar para afundarem-se na mesmice da rotina diária, esquecem-se de que um dia aspiraram ser bombeiros e bailarinas... o sonho infantil perde o valor quando se fala em moeda corrente nacional. Afinal... quanto vale um sonho? Será possível quantificar realmente o que faz valer a pena deixar um sonho pra trás? Será que algum dia valerá a pena? Será que a troca de prioridades justifica escolher por este sonho ou por aquele abrindo mão dos demais?... Tomei o último gole de iogurte, esfreguei os olhos areiados de sono, sacudi a cabeça como quem diz: "Acorda, para de sonhar!"

Parar por que? O que um dia levou alguém a crer que não valeria a pena sonhar, lutar por sua realização ou simplesmente deixar que a vida o encaminhe? Nessas minhas andanças mundanas, tenho me deparado, não raramente, com esse ser peculiar que é o anti-sonhos, xafurdado em seu ceticismo... perdido em suas nobres verdades ultrapassadas... dizem-me que 90% da população mundial é assim... encomodam-se com a própria solidão, como se ficar a sós consigo mesmo causasse um imenso constrangimento... e os causa!




*** (descontinuação em 12/09/2011)



Em Curitiba, raia o sol disfarçando o dia frio, Segunda-feira... dia de começar dietas, recomeçar trabalhos inacabados, ler os e-mails acumulados do feriadão, encher o peito de fôlego, recalcular os problemas, reinventar soluções... perpetuar sonhos!

Voltei do feriado de 7 de setembro como quem vem pronta pra uma batalha épica e no fim das contas, a vida nem é tão senhora do mal assim. As pontas dos laços se atam, os nós-cegos se desatam, o dia a dia recomeça... lembro-me agora das cenas que vi na estrada, passando por Itajaí e Blumenau... ainda falando de sonhos, estes os quais eu via passar pelas janelas do carro, estavam quase que totalmente destruídos, debaixo d'água, alagados em suas próprias desgraças, implorando por uma ajuda que certamente não viria, senão com o tempo e a paciência que bons sonhadores necessitam.



Nesses espaços preenchidos do manicômio social, os anti-sonhos seguem se alimentando da tristeza alheia, destilando seus venenos e desperdiçando seus olhares invejosos, causando tormentas e enchentes quase tão avassaladoras quanto a que atacou nesse início de mês as terras baixas de Santa Catarina. Nesse dia próprio de reflexão acerca dos riscos, da necessidade de equilíbrio e dos benefícios de viver por si só, exaltou-se o perdão, a compaixão e a paz de que tanto precisa nosso mundinho doente. Os meus sonhos, graças a Deus e contrariando as estatísticas, continuam vivos, acesos e reluzentes, mas, por via das dúvidas, vou comprar uma capa de chuva, um bote-salva vidas e um punhado generoso de sal grosso!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma breve discussão acalourada!



Não que eu acredite em horóscopo, mas o meu dizia que este período seria um período de recolhimento e que deveria ser repeitado, que eu deveria relaxar mais e não me estressar por besteiras. Falava ainda que eu deveria tomar cuidado com a saúde, pois era um período de fragilidade. Esse início textual já deixa claro o que me aconteceu né? O dia mal havia começado, me encaminhei ao escritório, enferma, cabisbaixa, andar deambulante (os 4 casacos para escapar do frio não ajudam) e agarrada em uma bolsa de água quente me sentei em frente ao computador para cumprir minhas tarefas diárias, onde me encontro até agora. Me acompanham ininterruptamente, uma chícara de chá e um vidrinho de remédios.



A discussão começou cedo na web. Assunto: Homossexuais. Incitadora: Maria Debacker Porto. Partícipes: dois amigos da Maria (que a princípio me pareceram deveras preconceituosos), eu e ela. Não cabe aqui discorrer na íntegra o que se passou nas nossas acalouradas polêmicas Facebookianas, basta que saibam que me exaltei e em defesa dos fracos e oprimidos, já fui eu metendo meu betelho onde não fui chamada. Certo que eu estava estressada pela dor inerente ao meu estado de saúde matinal, mas é que esses assuntos de "defesa das minorias" sempre me agitam os ânimos.



A faísca inicial:

-Você aprendeu na escola sobre respeitar os índios?
-Sim?!
- Virou índio?
-
Não?!
- Então por que diabos acha que ensinar seu filho a respeitar os homossexuais o fará se tornar um?


Pois é... alguns acreditam que o Estado não pode impor esse tipo de educação e que seria bem melhor que ensinassemos isso em casa. Pois vou repetir o que a Maria respondeu:


"...vc tem razao, sim... claro q vc tem o direito de ensinar oq vc achar melhor para seus filhos. Eu tb tenho e a Ana tb tem. O unico ponto que gostaria de ressaltar é que uma grande parcela da população não vai ensinar esses princípios aos filhos simplesmente porque não tem esses princípios. Não ensinarão os filhos a respeitar gays, negros, brancos, chineses, índios, gordos, magros, altos baixos, cabeludos e carecas. Não jogar pedras em cachorros, gatos, cavalos e passarinhos. Também não ensinarão a reciclar o lixo, não gastar água potável com coisas inúteis, não jogar lixo na rua, não chingar os outros, etc... para que as próximas gerações tenham aprendido todas essas coisas é necessário, sim, que a escola intervenha. Se não há educação dentro de casa (e nós sabemos que na maioria dos casos do nosso querido Brasil nao há) a escola é uma bela alternativa para que um futuro melhor seja construido!"


BRAVO!


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A boa e velha arapuca contemporânea!



Por esses dias vi milhares de vezes a base do ctrl+c, ctrl+v no Facebook a seguinte frase: "O EUA foi para o Serasa, Grécia faliu e em Londres tem arrastão. Já que o Brasil não vira primeiro mundo, o mundo vira Brasil." (Fernando Dias Pinto Coelho)... Pois é... há mágoa causada por nosso antipatriotismo, exaltada em dezenas de milhões de brasileiros que tecem seus comentários diariamente acerca de quanto é evidente o atraso tecnológico, social e estrutural do nosso País, ressaltando que aqui é o lugar da corrupção, que aqui os impostos são absurdos, que somos explorados, que as coisas não funcionam e, que no fim das contas, sempre tem o famoso jeitinho brasileiro de contornar qualquer situação e tirar alguma vantagem de alguém ou de algo. Fato!




Eu até pensei em seguir a linha patriota e defender nossa amada terra de dimensões continentais... até pensei em dizer: "Estão vendo, mesmo a púdica e tradicional Inglaterra está um caos com suas gangs revoltosas, mesmo os Estados Unidos, o gigante do novo mundo, com suas riquezas e todo seu capital de giro, está falido... a linda Grécia... quebrada..."... mas onde já se viu? Nos comparar com o erro e a gafe dos outros?... claro que não, é mais que sabido que se nos comparamos com os piores acabamos nos igualando a eles... e sorrir, apenas por que agora os países ditos de primeiro mundo, sofrem algo que sofremos todos os dias, faz muitos anos, não nos redime das burradas e babaquices que acontecem por aqui.




Sei que estava eu a ler a artigo de Marcelo Coelho (Moral? Que moral - Folha Ilustrada. 17/08/2011) na Folha de São Paulo de hoje e as letras em negrito, criticando os saques ocasionados em Londres (onde os salteadores não buscavam leite ou batatas, queriam iPads, DVDs, Blackberrys...), diziam o seguinte: "Saques motivados pela fome? Podemos entender. Saques motivados pelo luxo, eis algo inadmissível" e eu concordo com a continuação deste parágrafo no próprio texto, que questiona ainda, "Será? Toda a estrutura de nossa sociedade afirma que sem um tênis Nike, um iPad ou uma camiseta de grife você não é nada"... Fato, lá e aqui!




E a que ponto chegamos...o sorriso pela desgraça alheia agora vem em doses nacionais, disfarçado pela política da generosidade estatal, que leva sempre nossos queridos governantes a oferecer apoio (ainda que apenas moral) aos governantes dos outros países, sempre tão aparentemente afundados e esmigalhados pela derrota advinda de seus planos econômicos e sociais falidos... cada vez mais parecidos entre si, ouvi alguém falar outro dia que para se localizar no mundo é preciso olhar pra cima, pros grandes monumentos históricos que identificam cada país em si... por que as jovens inglesas, vão estar vestindo a mesma polaina que aqui vai estar na moda quando o inverno chegar no hemisfério sul... a fissura digital é a mesma, a busca pelo consumo também... e agora, as desgraças políticas e sociais também tendem a se igualar?




...não é só... até as manchetes dos tablóides europeus são aparente plágio as manchetes da nossa Rede Globo... sei, que o mundo está mesmo cada vez pior e acabamos nos identificando com esse sentimento que agora aflora nos estudantes Holandeses e Italianos que tem suas bolsas de estudo cortadas e ficam a ver navios sem apoio para continuar os estudos... Mas sei também, que outro dia alguém me disse o seguinte, que a Grécia pode estar quebrada, mas que lá, as obras de melhorias públicas são evidentes, que o país funciona, que os corruptos estão sendo presos e que por mais que o luxo tenha diminuido, não falta o básico pra ninguém... sei lá... não fui a Grécia para confirmar tudo isso... Mas a mim resta claro e indignante esse nosso Brasil de todos os Santos em sua imensa arapuca Sarneyense!




Que a vida é cíclica e que tudo muda, evidente, até os "países de primeiro mundo" (entre aspas por que o termo demonstra apenas que foram [des]civilizados primeiro) tem seus altos e baixos... e nós? Quando é que vamos colocar o Brasil no alto? Que a estabilidade econômica é a melhor que já tivemos em toda nossa história? Certo. Que a roubalheira sempre aconteceu e que agora está aparecendo e isso é um bom sinal, afinal estamos desmascarando os grandes esquemas de desvios das nossas verbas? Certo... mas e agora? Fazemos o que com isso? Não vejo ninguém relevante ser preso... e quando são, logo já vem outro assumir o mesmo esquema fraudulento que se perpetua... e os salários lá em cima? Sobem cada vez mais... é como se eu chegasse pro meu chefe e afirmasse, já com a folha de pagamento em mãos, que eu VOU ganhar muito mais e ele que engula (e pague) isso... pois é exatamente o que fazem nossos eleitos quando decidem que SIM, eles vão ganhar mais... e ninguém se opõe... não há nada que possamos fazer... e não há nada que a Dilma faça... afinal, não é bom se indispor com essa galera barra pesada!




O melhor mesmo é sorrirmos, acreditarmos no futuro e fazermos um mundo melhor... Como? Quem sabe contribuindo para o Criança Esperança, Teleton... ou realizar qualquer uma dessas doações que não podem ser abatidas do imposto de renda... afinal... se não pagarmos os impostos, como é que vamos bancar os salários deles?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os paradoxos inspirados por Amy!


Há tempos que venho buscando um tempo de parar para escrever por aqui. Também por que ando com idéias fervilhantes que me acompanham em meu escasso tempo livre do dia a dia. Ainda se eu pudesse juntar todos esses momentos, de forma que não se interrompessem, quem sabe ficaria mais fácil formular frases de mais de 4 palavras... mas não... penso em algo e quando a matéria começa a clarear e tomar forma questionadora e dignamente divulgável, vem-me um intervalo necessário gerado pelos afazeres rotineiros. Quando surge um novo pequeno instante de ócio, aquela idéia já se foi e já existe outra em seu lugar que de quase nada adiantaria em um texto acerca da primeira.
Cada nova Folhinha Ilustrada que leio, cada nova matéria de jornal ou de Revista, cada nova manchete estrondosa na internet ou frase descabida de seres ignóbeis na rua me faz ter vontade de escrever. De gritar os por ques das minhas revoltas, espalhar minhas idéias, questionar princípios retrógados e fúteis, destruir velhas verdades como quem assopra migalhas de pão, pois são tão sujeitas ao vento que desmascaram em tres palitos suas bases frágeis e apenas, tão somente apenas, aparentemente estruturadas. Estou cansada das mesmas babaquices anti-revolucionárias e lendo Contardo Calligaris (sempre ele, é meu ídolo), assimilei um conteúdo que a muito vive dentro de mim... O título era "O paradoxo de Amy Winehouse"... mas aqui falarei dos meus próprios paradoxos... se assim os afazeres diários me permitirem...
Falou Ele (e quando digo "Ele", apartir daqui leia-se Contardo) sobre a morte da super talentosa e extra viciada em entorpecentes: Amyzinha (para os íntimos): "É o paradoxo de Amy: O que você prefere, uma filha que se perca tragicamente nos excessos do desejo ou uma filha que chegue a vida adulta sem ter conhecido outros desejos do que os que surgem nas conversas sobre marcas de mochilas e sapatos?" Por que são essas as alternativas que colocamos aos nossos filhos quando lhes apresentamos os extremos do mundo cor-de-rosa como se estivesse com aqueles troços que colocam no cavalo pro coitadinho não ter visão lateral (sabe do que estou falando?) e quando negamos informação sobre as coisas que deveriam ser discutidas, tal qual o uso consciente de drogas...
NÃO, isso não é uma apologia e que fique claro que não estou de forma alguma incentivando o consumo de algo que faz mal, e sim, propondo que a abordagem acerca de certos temas não incentive a curiosidade que resta aos nossos adolescentes historicamente revoltosos, vivendo a política do "proibido é mais gostoso". Quebrar esses antigos tabus e mostrar a esses serzinhos em desenvolvimento que não existe uma barreira entre o bom e o mau, que esse muro já caíra, muito antes do de Berlim e que é dificílimo traçar limites já que o certo e o errado estão inevitavelmente misturados. A cada passo que damos é possível encontrar anjinhos com cauda e chifrinhos e diabinhos com auréolas, cada qual tentando mudar nossas crenças e nossos princípios por muitas vezes extremamente defasados.
Se eu tivesse apenas essas duas opções, do sereno mundo da barbie e do turbulento mundo de Amy, certamente estaria entre as que dispensam uma bolsinha V.H. e fazem topless em frente as câmeras dos paparazzis, mostrando a língua e desfilando de companhia nova a cada dia. Não por que alegra-me a rebeldia sem causa e a maldição dos 27 anos, mas por que detesto pensar que a qualquer momento o laranja pode ser o novo Pink e estarão todas as mocinhas da cidade a discutir, como quem discute o rumo da humanidade, a importância do salto alto fino metálico nessa próxima estação.
Do paradoxo? Claro que é explicita e espantosamente parecida a alienação que ataca os jovenzinhos do mundo Perfect e os do mundo Drug, altamente comparável essa ignorância dos que afundam na beleza de seus mundinhos da moral e dos bons costumes julgando os que não se contentam com isso ou dos que se enxarcam de irrealidades psicodélicas ausentes e distantes do mundo real. Ambos vivem em "faz de conta" e jogam de um para outro a responsabilidade pela desgraça mundana. "O mundo só está assim por que as drogas acabam com as pessoas"... "as pessoas só usam drogas por que é impossível ser feliz nesse mundo hipócrita"..."eles não reciclam o lixo e não se importam com a natureza"..."eles não trabalham, não querem saber de nada sério da vida"... "estão sempre drogados, como podem saber o que é certo?"...
Enquanto não nos dermos conta que a culpa é de todos nós, vai ser bem difícil achar uma solução... eu não sei de tudo, mas sei que esconder a verdade nunca foi uma boa idéia, tanto quando fingimos que o lado escuro da força não existe, quanto quando nos escondemos nas névoas desse lado obscuro pra não ver o que se passa com o nosso nicho ecológico, que quase se confunde com lixo. E algo como nos cercar em grades culpando aqueles do lado de fora pela esbórnia e pela falta de liberdade, como se não fossemos nós os únicos culpados dessa loucura toda, quando tentamos varrer a sujeira pra debaixo do tapete ao invés de destruí-la. A dúvida crucial é: Amy OU Barbie? Eu e Ele, temos esperanças de que nossos adolescentes não prefiram a inércia da imbecilidade fútil e sim, que consigam crescer com desejos próprios e fortes, seja lá o que isso signifique.