quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Não foi tragédia, foi milagre!


Foi sem me consultar que, em Abril de 2013, enquanto ainda éramos noivos, ele secretamente já tinha decidido que adotaríamos uma pequena Labradorazinha... da ninhada de 11 que torturava correndo e cansando a mamãe Bisteka. Tutti, quase não mamava, por que a concorrência era enorme e desleal. 

Seus irmãos eram daqueles gorduchinhos que viviam pendurados nas tetas da mãe enquanto ela andava. Já a nossa pequenininha, dormia... Me ganhou quando não fez cocô em mim (como a irmã fez) e coube na palma da minha mão... Quando a aconcheguei, se acomodou no meu decote, entre meus seios e dormiu mais um pouquinho.

Chegou com 35 dias, a barriguinha inchada e aquelas patinhas que pareciam de brinquedo. Mimada desde pequetitinha. Nossa primeira desculpa para trazê-la para dormir no quarto, era que deixá-la chorando na lavanderia acordaria os vizinhos... os vizinhos se mudaram (por outras razões)... e nós a usamos como desculpa para sair de um apartamento de 46m² para um sobrado de 132m².


Lá ela tinha espaço... mas não tinha amigos, só convivia com gente e parecia não saber que era um cachorro, mesmo quando estava rodeada deles. Foi em Novembro de 2013 que a Zelda surgiu, para salvar a Tutti dessa vida de filha única que ela levava. Chegou com aquele ar piduncho de quem não espera nada além de carinho, dando suas lambidinhas inconvenientes e nos conquistando com seus olhinhos de mel.

Elas logo ficaram amigas, irmãs. Brincavam de revirar as casinhas, as pedrinhas e meu vaso de manjericão. Muitas vezes pensamos em como seriamos mais livres (e com mais dinheiro) como qualquer outro jovem casal sem filhos, se não as tivéssemos adotado... e no mesmo segundo sorriamos, na constatação óbvia de que também não seriamos tão felizes sem elas. Sempre valeu a pena! 

Com as meninas não existia tédio... a Tutti latia e brincava, o tempo todo se fosse possível... A Zelda lambia e gostava de ficar aconchegada em mim, o dia inteiro se eu topasse! Se não havia nada pra fazer e se elas estavam cansadas, ainda podíamos tirar fotos delas e dar boas gargalhadas com o resultado... o cachê era em palitinhos, maçã e carinho. 

O acidente de 04 de janeiro de 2016 ocorreu de forma inesperada e interrompeu tantas programações que, por rotina, sempre envolviam nossas meninas. Ouvi muitos falarem que foi uma tragédia, mas só consigo pensar que foi um milagre... um milagre estarmos vivos, uma tristeza enorme não tê-las mais em nossa rotina, mas um milagre termos recebido a bênção de conviver com elas nestes últimos anos.

Ontem, comendo manga na cama (por que foi nela que passei os últimos dias), derrubei um pedaço no lençol que o Rafa tinha acabado de trocar... sorrimos, ao lembrar que a Tutti não estava ali para limpar (e deixá-lo todo babado)... e que talvez não conseguiríamos sequer estar comendo a manga em paz, por que elas adoravam frutas e sempre ficavam nos rodeando nessas horas...

Hoje minha casa ainda está cheia de pelos... o sofá ainda com a mantinha que o protegia das brincadeiras malucas que elas inventavam pulando por cima dos móveis, correndo uma atrás da outra... As casinhas ainda no quintal e os sacos de ração gigantes ainda estão esperando serem doados. As fotos ainda estão na parede da sala... 

Eu sei que o tempo aos poucos vai transformando a dor em uma saudade com lembranças alegres... aos poucos vou pensando só nos sorrisos e agradecendo a Deus por tudo de tão lindo que nos trouxeram... Que continuem nos iluminando e nos alegrando lá do céu... e voltem logo pras nossas vidas terrenas, tão logo nosso coração esteja pronto pra recebê-las, da forma que for.

.... As vezes ainda choro constatando a falta que me fazem, outras sorrio de lembrar de toda alegria que trouxeram à nossa vida... A vida continua... Nós estamos vivos e de alguma forma, vocês também estão!