sexta-feira, 7 de março de 2014

Paus e pedras! Fomos nós quem criamos...

 

Desde ontem fiquei de falar por aqui das coisas que vejo por aí. Da Janela do ônibus vi um grupo de três meninos com aparência de uns 15 ou 16 anos, em plena adolescência revoltosa... Ignorei as roupas que usavam, mas não pude deixar de notar os paus e pedras que atiravam em um quarto menino, da mesma idade que caminhava mais a frente em passo apressado, mochila nas costas arcadas, como um caramujo em tentativa de se esconder em sua concha... Roupas simples...

Apressadamente, fingi estar filmando com meu celular e aproveitando que o ônibus estava estático no trânsito consegui impedir dois pedaços de pau (do tamanho de tijolos) de serem atirados, enquanto um deles proferia palavras de baixo calão se referindo a mim e detendo o outro de ser flagrado pela minha câmera... Que, diga-se de passagem, estava desligada... Fiquei nervosa com a cena e na pressa não consegui ligar.

Provavelmente, quando o meu ônibus avançou na direção oposta, o pau voltou a cantar, como em tantos outros dias. Por que atiravam se tal atitude, eles sabiam, não deveria ser registrada? Aqueles moleques, e os chamo assim pela atitude, não pela idade, sabiam muito bem o mal que estavam causando... Mas não se importavam. Temo pelo menino atacado, temo por mim... Temo por todos nós que temos como futuro, de um lado, pessoas que amedrontam e de outro, pessoas amedrontadas.

Pensei que, um dia qualquer, suponho que o menino amedrontado acordará de manhã e protagonizará mais um massacre a ser divulgado em rede nacional... Extravasará sua raiva além daqueles, que naquela manhã em que estive de plateia, o humilhavam... Também, por que aquela não deve ter sido nem a primeira e nem a última vez em que regressou ao seu lar com a cara arrastada no chão da vergonha e do ódio que foi cultivado dentro dele até a morte, sem que ninguém impedisse.

Quem sabe os jornais descubram a verdade por uma carta que ele deixará para a mãe... Mas pode ser que digam apenas que era um militante esquerdista influenciado pelo Chavismo , fã número um de Osama... E aí, no Senado se debaterá mais uma vez a redução da maioridade penal e a pena de morte, com argumentos de que aquele jovem criminoso que matou uns tantos no colégio deveria morrer de forma brutal ao invés de ter tido o benefício do suicídio.

Os atiradores de pedras e paus? Coitadinhos... Estão lá... Esfalecidos em poças de um tom vermelho vibrante... Tão vibrante quanto a sensação de poder que outrora corria em suas veias ressaltando a testosterona do macho alfa que eram ao ter a coragem de pisotear aquele que agora os coloca ali ao chão. Infelizmente não haverá revanche, nesse caso, todos perdem. E eu perco também...

Em outra hipótese, o menino curvado absorve aquela humilhação como parte de si e para não pensar na vida, vive de modo mecânico, submetido eternamente aos que se julgam melhores que ele. Sim, ele poderia revidar, poderia mostrar que é mais do que pensam que é... Mas ele nunca soube o que realmente poderia ser, acreditou e acabou como tantos outros, como massa de manobra, manipulado pelas mais diversas manifestações de pensamento, aqui, ele odiará a vida e se odiará junto com ela. Perdemos mais uma cabeça pensante.

Em uma terceira hipótese... O menino achincalhado, segue sua vida, constrói um futuro... pois tinha em casa um bom apoio familiar, uma boa base educacional e muita autoestima... Mas quantos em  situação semelhante têm e quantos deles conseguem superar traumas e humilhações rotineiras que sofrem durante a infância e a adolescência? Não estamos mais ensinando nossas crianças a respeitar as diferenças... e repassamos à elas todo o preconceito que nos foi passado por nossos pais... para que elas passem pra frente até que sofram as consequências dessa herança maldita que as deixamos.

Não faltam leis, não faltam regras... Falta respeito a dignidade da pessoa humana... respeito a vida... e um tanto mais de educação... pensemos...

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