Sempre achei fácil falar de sexo.
Essa minha condição de não ter papas na língua e nem criação de juízo sempre me
permitiu falar e fazer sexo com tanta facilidade quanto meus hormônios permitiam.
E foi desde muito nova, desde o primeiro lamber de beiços alheios, que de um
lado minha mãe já me ensinava a colocar camisinha e de outro meu pai já
comprava meus anticoncepcionais, querendo acreditar que eram para melhorar o aspecto
da acne que tomava conta da minha carinha adolescente.
No fim das contas, eu era só uma
menina que, aos 17 anos, foi morar longe de casa pra tentar caminhar com seus
próprios passos, ansiosa para mostrar ao mundo que já era mulher. Pensava que
era dona de si, fazia o que queria com quem bem entendia da forma e onde
gostasse de fazer. Era o meu jeito de enfrentar o mundo e berrar minhas
insatisfações, abrindo as pernas na cara da sociedade pra dizer que a boceta
era minha, que eu a usaria como bem entendesse e pronto.
Se passasses pela minha cama,
saberias apenas que por ora, eu era aquela mocinha rebelde com idéias na
cabeça, que não gostava de compartilhar refeições, nem de acordar ao lado de
ninguém, quanto mais beijar na boca antes de escovar os dentes: “ECA!”. Curtia
viajar para lugares inóspitos com desconhecidos de todos os gêneros e virava a
noite e o dia em festas de música eletrônica apaixonando-se por uma ou duas
pessoas por final de semana, usando de sexo para gritar: LIBERDADE!
Um dia, acabei achando que
“boceta” era uma palavra muito forte... Cansei de enfrentar o mundo dando a
cara (ou a bunda) pra bater e percebi que é muito mais eficaz conseguir o que
eu quero chegando com jeitinho, expondo meus argumentos, cheirando o cangote de
leve ou mesmo apenas sorrindo sinceramente. Dei-me conta que a conchinha com um
travesseiro entre os joelhos é a posição ideal para dormir a dois: aquece as
costas, aconchega a alma e não prejudica a coluna.
Mas tudo isso por que eu, a
contra-senso da mulherada de plantão, encontrei a concha perfeita onde repousar
meu corpinho e descobri o tão falado amor. Ele encaixou em mim e ainda por cima
me pediu em casamento. Aí eu percebi que lastimar amor e falar de sexo, nu e
cru, é batido. Que fazer sexo continua bom demais, que conversar sobre isso (e
praticar) é o caminho mais divertido para chegar ao ápice e atingir orgasmos
com o parceiro escolhido, mas que não é nem de longe a melhor forma de
protestar por nossos ideais. Sexo todo mundo faz.
Se é “ele”: faz (ou não) e vomita
por aí, com quem e como foi, nos sórdidos detalhes, como prova de sua imensa virilidade.
Se é “ela”: faz, solta a louca culpando o álcool e depois esconde, dissimula,
faz um charminho e finge pro próximo candidato que no meio das pernas está seu mais
rico tesourinho. Aí, quando o moço termina o serviço, vai embora e não liga no
dia seguinte, ela assume a libertinagem e diz que foi aquele canalha qualquer
que a fez cair na vida, mais uma vez. Ó mundo cruel esse no qual temos vergonha
das nossas vergonhas abandonadas.
Eu tenho vergonha é dessas
pessoas que têm praticado sexo como uma forma de curar suas abstinências de
amor próprio, compensar suas falhas de conteúdo ou como meio para conseguir
algo que não têm conseguido sozinhas: A tal liberdade que só o sucesso da
satisfação pessoal pode proporcionar! O que muitas vezes é erroneamente
quantificado pela freqüência de atos sexuais, sob ou sobre os lençóis,
deixando-as esquecer que quantidade não quer dizer qualidade... (Eu também não
me dava conta disso em outros tempos...).
E como já dizia Rita Lee, “Amor é
um, Sexo é dois”... Não há nada mais dependente de outrem (Além de nascer!) do
que sexo. A melhor forma de adquirir independência e mostrar ao mundo que “você
pode!” não é transando com metade da cidade... Com a banalização e essa enorme
oferta de sexo grátis e barato por aí, transar não é mais um ato inusitado. Ser
revolucionário hoje em dia é ser capaz de amar alguém ou e a si próprio com
aquela mesma intensidade que, em uma dada época, amamos honestamente as noites
de sexo como se não houvesse amanhã, nos termos das grandes revoluções
socioculturais.
Nada contra as revoluções sexuais
e muito menos contra sexo, eu compreendo, estou inserida no grupo da tal
necessidade fisiológica, e sempre fui uma entusiasta da causa, mas precisamos
admitir, atualmente, ser um entusiasta do sexo, não é mais tão revolucionário. Para
mudar o mundo egoísta em que vivemos, ou simplesmente o “seu mundo” (Como
preferir!), é preciso dedicar algo raro: amor a todos os pequenos atos, em
todas as nossas atividades.
O amor pelas coisas belas, o amor
por si e pelos seus, o amor sobre todas as coisas, esse sim é que é inovador, é
ele quem muda pontos de vista, altera caminhos, cria e desvenda mistérios, nos
faz compreender tudo àquilo que é diferente, espontâneo, que é o oposto do que
estamos acostumados em nossa rotina naturalmente solitária e individualista nas
grandes sociedades mundanas.
É perceptível, os que não
aprenderam a se amar e a amar ao próximo, esqueceram-se pelo que estão lutando.
Muitos suprimiram suas essências para adotar personagens sedentas em busca de
sexo por sexo. Homens e mulheres, ambos desconhecem o verdadeiro potencial
amoroso e, consequentemente, revolucionário, que possuem. Vestiram suas carapaças sociais
tão preocupados em mostrar ao mundo o quão “fodásticos” e
pseudo-revolucionários podem ser no quesito “sexo”, que não perceberam que além
do sexo, independente do sexo, antes, depois e durante o sexo, pode e deve
haver o amor... Principalmente o amor próprio... O raro e revolucionário amor
próprio!
Ana, vc está escrevendo cada vez melhor!!! Adoro seus textos!!!
ResponderExcluirBeijinhos!!!
Obrigada Laís! Continue me deixando recadinhos, eu adoro! hahahaha... Beijinhos! :D
ExcluirPooooooooooooooorra!! amo amo amo!!! Ana tu arrebentas!! amo t amo t amo t!!
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