Não existe época mais nostálgica do que essa em que estamos vivendo. Nunca nos lamentamos tanto do passado quanto agora. mentimos o tempo todo para nós mesmos... afim de nos fazer acreditar que antes as as relações humanas eram melhores, que os dias eram menos corridos, que se respeitava os mais velhos, que se tinha mais educação, que as crianças eram mais inocentes e que os políticos não eram corruptos...
Somos a geração da lamúria... como se "naqueles tempos", "no nosso tempo"... "no tempo em que eramos crianças"... as coisas fossem diferentes... Eu não tenho tanta certeza! O que eu sei e, é inegável, é que antes eu era menor... de altura e de idade... Que o mundo parecia muito maior do que me parece agora... Sei também que antes não tínhamos a facilidade que o mundo virtual nos oferece de perceber o que acontece do outro lado do oceano e de lamentar tudo que estamos perdendo do lado de fora do nosso próprio mundinho.
Talvez o que tenha mudado não seja tão somente o mundo e todo esse negativismo que aplicamos nele, provavelmente seja um grande mal entendido com nós mesmos... que crescemos e percebemos a pequenez das coisas que dantes nos pareciam inatingíveis e esplendorosas. E agora que sabemos... que lá em cima eles tem mais que nós, em matéria de dinheiro, de tecnologia, de bens materiais... a nossa grama parece ainda mais morta e esturricada nesse solo tão judiado das nossas estúpidas monoculturas.
Estamos passando um período de pseudo-evolução... de muitos falastrões e poucos realizadores... de muita teoria inútil e pouca prática sustentável, somos a geração suco de soja com proteína, a geração do corpo escultural e do cérebro atrofiado... Essa contra-cultura do avesso, acabou por refletir nas nossas crianças, nos nossos votos, na nossa ignorância alimentada pela alienação. Mas nós somos as crianças daquele tempo... Ainda acham que "no tempo que eramos criança" as coisas eram menos bizarras? A música é um ótimo exemplo...
Ontem a "sábia" Hebe (que Deus a tenha e proteja ao lado da Derci boca-suja!) disse em certo momento de uma entrevista reapresentada em uma das dezenas de homenagens que a televisão brasileira lhe dedicou que, "gosto de todo tipo de música... Não não... funk eu nem considero música... tem certos tipos que não considero música"... ela podia não ter bom gosto para se vestir, nem para arrumar o cabelo, nem tampouco tinha noção da idade que aparentava (com 83 anos de idade, aparentava 60, e não 38 como supunha!) mas vai me servir bem para dar um pontapé inicial no assunto...
Músicas de verdade, tanto sempre transmitem emoções diversas, desde quando palavras não significavam nada, a música sempre significou alguma coisa pra alguém... talvez nem sempre a mesma coisa pra quem emite e pra quem recebe... mas se soubermos ouvi-la, sempre provocará alguma parte de um órgão ou sentido nosso. Acontece que órgãos sexuais não contam... a música é implícita... não pornografia explícita... Chico é quem sabia bem como diferenciar essas coisas...
Ahhh, bem... aí estou eu a me lamentar que outrora a música era melhor do que hoje... eu não sei vocês... mas na minha época "É o Tchan" já existia e o Jacaré já pegava no "compasso" na frente de menores de idade! Ou então nós mocinhas em festinhas de 12 anos já dançavamos o "piu-piu-ô-pirulitô", vestindo um shortinho Carla Perez e cantando que "se fosse grandão era do Ricardão"... Ora... isso não mudou... talvez tenha se acentuado... talvez essa tal de informação tenha facilitado o passo-a-passo para as nossas crianças... mas a essência é a mesma... e a Hebe estava certa... tem certos tipos de barulho que não são música, nunca foram.
Sempre existiu barulho e sempre existiu música. Assim como sempre existiu e sempre vai existir pessoa do tipo que quer se dar bem em cima dos outros, já diria o nosso saudoso malandro, que há muito desvirginava moçoilas e afanava carteiras... é a origem da nossa história... as moças gostavam dele, os compadres o invejavam, por que sempre se dava bem... e hoje ele é Presidente do Senado Federal! Não é nenhuma novidade, não é nada que não fosse esperado... os meios de comunicação apenas adiantaram as coisas... e agora?
Agora a gente corre atrás do prejuízo... corre cada vez mais... não por que o mundo gira mais rápido, mas por essa mania da gente de acreditar que antes as coisas eram melhores e que trabalhando, estudando e entupindo nosso dia de afazeres vamos conseguir encher os bolsos de dinheiro... estamos certos... talvez nossos bolsos possam, em decorrência da ralação, ficar cheios de dinheiro... mas acredite... de nada adiantará se o cérebro e o coração ficarem vazios... Isso também sempre foi assim e sempre será! Não foi o mundo que piorou... fomos nós que aprendemos a enxergar...
Eu prefiro (e preciso) acreditar que é uma chance... de fazermos um mundo melhor!
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