Há tempos que venho buscando um tempo de parar para escrever por aqui. Também por que ando com idéias fervilhantes que me acompanham em meu escasso tempo livre do dia a dia. Ainda se eu pudesse juntar todos esses momentos, de forma que não se interrompessem, quem sabe ficaria mais fácil formular frases de mais de 4 palavras... mas não... penso em algo e quando a matéria começa a clarear e tomar forma questionadora e dignamente divulgável, vem-me um intervalo necessário gerado pelos afazeres rotineiros. Quando surge um novo pequeno instante de ócio, aquela idéia já se foi e já existe outra em seu lugar que de quase nada adiantaria em um texto acerca da primeira.
Cada nova Folhinha Ilustrada que leio, cada nova matéria de jornal ou de Revista, cada nova manchete estrondosa na internet ou frase descabida de seres ignóbeis na rua me faz ter vontade de escrever. De gritar os por ques das minhas revoltas, espalhar minhas idéias, questionar princípios retrógados e fúteis, destruir velhas verdades como quem assopra migalhas de pão, pois são tão sujeitas ao vento que desmascaram em tres palitos suas bases frágeis e apenas, tão somente apenas, aparentemente estruturadas. Estou cansada das mesmas babaquices anti-revolucionárias e lendo Contardo Calligaris (sempre ele, é meu ídolo), assimilei um conteúdo que a muito vive dentro de mim... O título era "O paradoxo de Amy Winehouse"... mas aqui falarei dos meus próprios paradoxos... se assim os afazeres diários me permitirem...
Falou Ele (e quando digo "Ele", apartir daqui leia-se Contardo) sobre a morte da super talentosa e extra viciada em entorpecentes: Amyzinha (para os íntimos): "É o paradoxo de Amy: O que você prefere, uma filha que se perca tragicamente nos excessos do desejo ou uma filha que chegue a vida adulta sem ter conhecido outros desejos do que os que surgem nas conversas sobre marcas de mochilas e sapatos?" Por que são essas as alternativas que colocamos aos nossos filhos quando lhes apresentamos os extremos do mundo cor-de-rosa como se estivesse com aqueles troços que colocam no cavalo pro coitadinho não ter visão lateral (sabe do que estou falando?) e quando negamos informação sobre as coisas que deveriam ser discutidas, tal qual o uso consciente de drogas...
NÃO, isso não é uma apologia e que fique claro que não estou de forma alguma incentivando o consumo de algo que faz mal, e sim, propondo que a abordagem acerca de certos temas não incentive a curiosidade que resta aos nossos adolescentes historicamente revoltosos, vivendo a política do "proibido é mais gostoso". Quebrar esses antigos tabus e mostrar a esses serzinhos em desenvolvimento que não existe uma barreira entre o bom e o mau, que esse muro já caíra, muito antes do de Berlim e que é dificílimo traçar limites já que o certo e o errado estão inevitavelmente misturados. A cada passo que damos é possível encontrar anjinhos com cauda e chifrinhos e diabinhos com auréolas, cada qual tentando mudar nossas crenças e nossos princípios por muitas vezes extremamente defasados.
Se eu tivesse apenas essas duas opções, do sereno mundo da barbie e do turbulento mundo de Amy, certamente estaria entre as que dispensam uma bolsinha V.H. e fazem topless em frente as câmeras dos paparazzis, mostrando a língua e desfilando de companhia nova a cada dia. Não por que alegra-me a rebeldia sem causa e a maldição dos 27 anos, mas por que detesto pensar que a qualquer momento o laranja pode ser o novo Pink e estarão todas as mocinhas da cidade a discutir, como quem discute o rumo da humanidade, a importância do salto alto fino metálico nessa próxima estação.
Do paradoxo? Claro que é explicita e espantosamente parecida a alienação que ataca os jovenzinhos do mundo Perfect e os do mundo Drug, altamente comparável essa ignorância dos que afundam na beleza de seus mundinhos da moral e dos bons costumes julgando os que não se contentam com isso ou dos que se enxarcam de irrealidades psicodélicas ausentes e distantes do mundo real. Ambos vivem em "faz de conta" e jogam de um para outro a responsabilidade pela desgraça mundana. "O mundo só está assim por que as drogas acabam com as pessoas"... "as pessoas só usam drogas por que é impossível ser feliz nesse mundo hipócrita"..."eles não reciclam o lixo e não se importam com a natureza"..."eles não trabalham, não querem saber de nada sério da vida"... "estão sempre drogados, como podem saber o que é certo?"...
Enquanto não nos dermos conta que a culpa é de todos nós, vai ser bem difícil achar uma solução... eu não sei de tudo, mas sei que esconder a verdade nunca foi uma boa idéia, tanto quando fingimos que o lado escuro da força não existe, quanto quando nos escondemos nas névoas desse lado obscuro pra não ver o que se passa com o nosso nicho ecológico, que quase se confunde com lixo. E algo como nos cercar em grades culpando aqueles do lado de fora pela esbórnia e pela falta de liberdade, como se não fossemos nós os únicos culpados dessa loucura toda, quando tentamos varrer a sujeira pra debaixo do tapete ao invés de destruí-la. A dúvida crucial é: Amy OU Barbie? Eu e Ele, temos esperanças de que nossos adolescentes não prefiram a inércia da imbecilidade fútil e sim, que consigam crescer com desejos próprios e fortes, seja lá o que isso signifique.
Querida filha, aqui estou eu de novo tentando escrever uma notinha para seu blog. Este texto seu de hoje está bastante confuso e me parece mal informado. Começa pelo o que tu chama de "troço" que tampa a visão lateral dos cavalos. Seria muito melhor tu fazeres uma pesquisa sobre isto antes de inclui-lo. Blog pode ser cultura também!Nesta tua pesquisa você poderia incluir, também, uma conversa sobre os cavalos ou éguas puxando carga. Não concordo pois, penso que os cavalos(e as éguas) são animais nobres, que pensam(com seu juizozinho, que sentem, que gostam de liberdade, que atravessam barreiras e limites).
ResponderExcluirPenso que a Amy(de que eu gosto muito) poderia ser comparada a uma égua(com todo respeito a ambas) que foi mal conduzida na infãncia e adolescencia, que alcançou o sucesso muito cedo e que acabou por se prender em umas vida adicta(escolheu mal seu amor e as substancias psicoativas que ingeria, por exemplo). E aí todos partimos um dia, não é mesmo? Mas, suicídio é a forma mais violenta de partir pois, significa que desistimos de fazer este mundo ser melhor, de correr pelas pradarias e deixar o vento bater em seu rosto... e não fugir da verdade. A Verdade é uma só, minha filha e ela nãO vem travestida de "crack nem pensar", ela vem com cheiro de estou no caminho certo pois "se consciencia há mal não há" como diz um amigo meu( que por sinal tem experiencia disto, digo, da vida). COM AMOR, MAMÃE